Palestra para a turma de ICC na UFPE
Rec 25-jul-2005 12:08
A Palestra
Hoje eu ministrei a quarta edição da minha palestra introdutória sobre
segurança da informação para os alunos do primeiro ano de Computação na
UFPE, numa disciplina chamada Introdução à Ciência da Computação (ICC),
cujo objetivo é abrir os horizontes dos novos alunos quanto às várias
sub-áreas e especializações que o ramo oferece.
"Quer mesmo que eu fale?"
Quando o prof. Fábio Queda me convidou pela primeira vez, no início do
ano passado, eu retruquei: "Tem certeza que você quer que eu fale, Fábio?
Historicamente muita gente não curte o que eu digo." Ele respondeu: "Vá
em frente." Falei o que achava que devia, recheando com demonstrações
técnicas de vulnerabilidades (bem simplezinhas, fáceis de entender, pois
os alunos nesse momento mal estão começando a aprender a programar),
contando histórias de coisas que deram certo e que deram errado, antecipando
pressões e conflitos pelos quais eles fatalmente iriam passar e um monte
histórias e 'causos'.
E, mais importante, tentar passar para eles a noção de que há muito mais
no mundo real do que eles aprenderiam ali; tentar inspirá-los para serem
livres pensadores, críticos, e verem além da lavagem cerebral de Java e
Artesanato de Software (sim, Engenharia de Software ainda não existe) que
o curso hoje faz -- e de uma maneira talvez acachapante, mostrando como o
curso simplesmente não ensina a fazer programas e sistemas que resistam a
ataques intencionais, dando uma ducha de água fria ao dizer que eles haveriam
de escrever os programas vulneráveis do futuro se se limitassem ao que veriam
naquele curso... e talvez ferindo mortalmente o orgulho de quem está se sentido
o máximo por ter passado no veestibular.
Ali chegaria eu com meus slides na certeza de que seria linchado -- senão
pela própria platéia, pelo meu amigo prof. Fábio ou por outros com quem
cruzasse no corredor. Que nada! Os alunos deram boas risadas das histórias,
ficaram horrorizados com a demonstração de SQL Injection e mesmerizados
com o
keylogger em hardware, fizeram perguntas inteligentes e no geral se
divertiram, levando minhas piadas e provocações cínicas com a esportiva que
elas merecem.
Perguntas: um show à parte
As perguntas são sempre uma show à parte. Sempre tem aquele que pergunta
"Qual o sistema operacional mais seguro?", que ganha a resposta de que tanto
Windows quanto Linux podem ser tornados tão seguros quanto se queira, mas o
Linux (e Unixes em geral) dá menos trabalho de
manter seguro.
Há o cara que pergunta se as empresas de anti-vírus criam os próprios vírus
para manter mercado: desnecessário, porque almas sebosas para escrever vírus e
fazer outros tipos de besteira nunca estão em falta e se as empresas de
anti-vírus estivessem entre eles, suas obras seriam reconhecíveis tanto
quanto você reconhece uma música nova de sua banda favorita sem sequer tê-la
ouvido antes.
Nunca falta alguém a querer aprofundamento técnico sobre como tal e tal ataque
funciona ou pedindo receitas específicas. Esses ganham um polido "longa
história; conversamos sobre isso depois."
Diversão e/ou Futilidade?
Enfim, eu me diverti também -- sem contar o alívio de ter sobrevivido intacto.
Mas será que surte algum efeito? Será que vale a pena? Será que não é um
exercício de futilidade? Afinal, eu mesmo, quando aluno anos atrás, não fui
exatamente um modelo em seguir os conselhos dos mais experientes.
Foi o que perguntei hoje para o prof. Fábio, que me respondeu no seu estilo
inquisitivo característico: "Eu questiono até se
essa disciplina inteira vale a pena."
Só me lembrei das aulas de OSPB no ginásio e das aulas de EPB no início da
faculdade, inquestionáveis perdas de tempo.
Quem baixar os
slides,
tenha em mente há muito na apresentação que não
está neles. O
filme sobre SQL injection também não é esse -- os que
eu uso na palestra eu tenho permissão de
mostrar, mas não de
redistribuir.
Mas,... eu me diverti bastante aprendendo um pouco sobre a percepção que
eles têm sobre segurança e informática em geral. Arrisco-me em dizer que
pelo menos alguns deles também se divertiram. E o que a gente absorve se
divertindo, ou se diverte absorvendo, dura mais.
Downloads
Créditos
topo